terça-feira, 15 de março de 2011

Terremoto


Foi dos olhos mais castanhos que contemplei
Que adquiri meu brilho,
E própria me frustrei por ter caído.
Hoje, aborreço-me a presenciar
Folhas do calendário a raptar meus dias;
Dias que se arrastam me levando a lugar nenhum.
Foi o seu surgir em minha vida
Que fez tremer o meu futuro,
E receio que ele seja tu.

Terremoto, abalo íntimo,
Destruindo a miragem de um príncipe
E os meus sonhos de cinderela.
Sou encantada por teu carinho;
Sou insensata por amar-te.
Não sei o que será de mim
Agora que te pertenço.

13 de setembro de 2006.

Eco de Duas Vozes


Leite com café
Uma mistura que não é
A solução;
Fazer você querer.

Todos os dias em que eu vi teu rosto
Em meio ao desgosto
De um dia acinzentado,
Eu me irradiei.

Porém, eu tenho dignidade,
Eu omitia e não mendiguei.
Meu equívoco foi confessado:
Abdiquei de ser um fardo.

Lembre-se de que eu
Orei do telhado,
Na tua morada;
Rondei sem me insinuar.
O prêmio era você em si,
Cuja atenção fiquei sem furtar.

Orei para ser tua noiva,
Para a natureza fazer você me descobrir.
Tornei-me sua
Antes de você vir.

14 de julho de 2006.

Meu Recanto



Amo-te sem isto forjar;
Sabendo que miro para perecer.
Este amor que quero desde a infância,
Que já chamei de infame
Por me inferiorizar.

Por causa deste,
Menosprezei teus atributos.
Perdoa-me por ser rude:
Estou aprendendo a me aperfeiçoar.

Amo teu jeito vívido,
O teu querer estruturado
E a carência um do outro.
Amo-te num parentesco de outros contos.
Que não haja desencontros;
Que o amor seja meloso
E, de tanto grude,
Não faça nosso amor segregar-se.



07 de setembro de 2006.

Essência


Amor femíneo quer garantir,
Se prevenir de sua própria fúria;
Amor traz dó ou vira trauma;
E finado, de luto não se vestiu.

É reviravolta no estômago;
Todo o conteúdo do seu âmago.
Nocivo a quem o cultiva,
Como prisão sem guarida.

Amor é misturar fascinação com seu inverso;
Ser louco e mutante, sem querer.
É partilhar em versos
A vocação do Universo.

Se amargar com doçura
E pousar na rua da Lua.

09 de julho de 2006.

Beijo na Boca


Beijo na boca é língua e lábios;
É a junção da atração com distração;
A surpresa da tentação com obsessão.
É calafrio e arrepio,
O delírio que traz alívio,
Sendo permitido ou proibido.



Pode ser mordido, molhado, roçado;
Selado, roubado e demorado.
Úmido, rápido e prático;
Longo ou curto é o ato.



Um beijo recíproco é explícito,
De tão espontâneo, é consecutivo.
Envolvente, ardente e quente.
A saliva da boca, no céu
De outra, tem gosto de mel.

A fissura com suplício;
Devagar ou comprido, é um vício.
Frenesi no ritmo do paraíso;
É um carinho de prazer sem juízo.

20 de agosto de 2006.

A Que se Prometeu Sem Ter Compromisso





Uma prometida com esmero;
Que faz do amor seu exagero.
Que faz dele seu juízo,
Como tal fosse seu vestido.

Que dele próprio se envenena;
Com ele mesmo, se escusa;
Sem tê-lo, se encerra;
E por si, propaga-o.

Quer-lhe indivisível;
Se diminui quando evolui.
Como prego com carne viva,
Faz de si a poetisa
Que narra suas feridas;
Do amor,
A euforia ou a melancolia.

No eco do caos, o decreta;
Em meio às vaidades, o ergue;
Entre os egocêntricos, é pura;
Para os adultos, é precoce.
05 de agosto de 2006.

Sem Rumo




Um barco no rio
Rema no ritmo
Da reta sem rumo.

Um verso sem rima
Rouba a vida
Da rosa com espinhos.

O rosto em ruínas
Sem restos de risos
Traz a marca
Do amor arrasado.
21 de agosto de 2006.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Sob Desafio




A solidão traz recordações
E todas vêm de sua direção;
O seu sentimento voou.
Mas voaria atrás, se eu pudesse;
Resgatá-lo para lhe devolver
A única forma de amor.
Não quero ser especial assim.
Mas eu só me vejo feliz
Quando sinto que passa por mim
O mesmo vento que lhe tocou.
As sobras desse amor ainda me fazem
Perder o juízo e te fazem covarde;
Eu ouvi a música que você me cantou.

E assim, a vida passa,
Ao menos, o minuto leva
Meu pensamento pra longe daqui.
Eu não me suporto tão de perto;
Preferia me deixar em um deserto
De reabilitação sentimental.

E enquanto o sangue corre,
Meus olhos seguem e percorrem
Por todo o seu campo visual.
Impeça seu destino,
Acorde com o inimigo,
Ouse me desafiar.

O desafio já está lançado,
Você já me entregou todos os dados;
O seu ego me libertou.
Deixe todos me zombarem,
Deixe seus risos murcharem,
Deixe o ano se estender.


17 de novembro de 2005.